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ADÉLIA SAMPAIO - A resistência da mulher negra no cinema brasileiro


 

Fazer cinema no Brasil é um tanto desafiador e mais ainda, quando se é mulher negra. Nos anos 80 Adélia Sampaio enfrentou todo preconceito e se tornou a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil.

 

Por Osmilde Bispo (@osmildebispo)


Filha de empregada doméstica, Adélia foi criada em um internato junto com sua irmã, aos 13 anos sua mãe consegue tirá-la do internato em Minas Gerais e a leva para o Rio de Janeiro onde trabalhava.

Até então Adélia nunca tinha ido ao cinema, a convite de sua irmã Eliana foi assistir um filme e ficou encantada, a partir dali nasce a paixão por cinema e ela decide que quer trabalhar nessa área.

No início trabalhou como telefonista na DiFilmes, na organização de cineclubes, realizou várias funções em um set em mais de 70 produções, como: maquiadora, continuísta, montadora, produtora, câmera e finalmente diretora.

Em 1979 Adélia Sampaio abre uma pequena produtora, lança então seu primeiro curta-metragem, o filme Denúncia Vazia. Trata-se de uma história real de um casal de idosos que não tendo como pagar o aluguel do apartamento são despejados pelo proprietário, o que os levam a cometer suícidio.

Seu primeiro longa-metragem foi Amor Maltido de 1984, com isso ela entra para a história por ser a primeira mulher negra brasileira a dirigir um longa. O filme é inspirado em uma história real de duas mulheres que se apaixonam e decidem ir morar juntas, Fernanda e Sueli. Sueli acaba se envolvendo com um homem, engravida e é abandonada, desesperada se joga do apartamento de Fernanda que é acusada de cometer o crime.

Além de sofrer preconceito por ser mulher negra, Adélia teve que enfrentar os ‘nãos’ recebido na hora de produzir e exibir o filme Amor Maldito, a Embrafilme, que na epoca produzia e distribuia os filmes, recusou a destinar recursos para a produção do filme por achar o tema um absurdo. O longa foi todo feito por sistema de cooperação e a equipe recebeu uma ajuda de custo.

Depois do filme pronto, nenhuma sala de cinema de São Paulo quis exibir o longa, então ela foi até Magalhães, que obtinha oito salas de cinema em São Paulo, mostrou o filme para ele, o qual gostou e a condição para ir às telas era parecer pornochachada, era que dominava o cinema nos anos 80 no Brasil. Como não tinha outro jeito, a cineasta aceitou a proposta e o filme estreou e chamou a atenção do público e do crítico da Folha de São Paulo Leon Cakoff, que escreveu: Ninguém é obrigado a adivinhar o que se passa por trás de um produto obrigado a se vender de acordo com as regras sensacionalistas do momento, Amor maldito é um raro oásis que não pode ser ignorado”.

O esforço de Adélia Sampaio em fazer o que gosta, por colocar em suas produções temas em que acredita, fortalece outras mulheres, negras, cineastas a continuar a luta que ela começou a enfrentar o preconceito e sobretudo mostrar que a mulher, principalmente a negra, pode tudo. Hoje em dia Adélia segue escrevendo roteiros, recebendo homenagens, prêmios e convites para exibir seu trabalho e debater sobre a presença da mulher negra no cinema.


Referência:

Revisado por:

Renata Meneses (@renatamenesess)

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